quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Música Distante

        Quando acordei e sentei à sala antes da varanda distingui ao longe um sambinha antigo. Não sabia quem tocava nem que música era, mas mesmo assim ele me confortava que nem ousava  mexer-me pra que o ruído bom não se extinguisse ou que perdesse minha posição confortável. Pela janela vinha uma brisa branda pra aliviar o calor, como as mãos de Deus que bate com uma e conforta com a outra.
Naquele dia não pensava em nada. Nenhum desejo, nenhum devaneio a me distrair. Apenas olhava o céu e via o tempo passar. Daquele dia não esperava mais do que o sol subindo até depois de tão alto ir caindo, caindo... Até morrer e vir a lua. Os dois que nunca se encontram no céu, mas que nutrem por si um encantamento admirável.
        Era outra vez naquela cidade .  O mesmo encantamento! Abraços que me faziam falta. O ar meio boemio que envolvia tudo ali. Um tom colorido entre as pessoas que se confundia com os tons da cidade. Um barzinho "fulero" para terminar a noite, uma dose de graça de vodka com laranja. Todos pareciam comemorar algo.
        Naquela alegria me perdi e veio então no dia seguinte horas sem pensamento. Despertei com uma música que pude então distinguir "fundamental é mesmo o amor é impossivel ser feliz sozinho". Nada melhor que ouvir logo que se acorda o tal Antonio Brasileiro. Entre uma canção e uma nuvem nova que surgia no céu... "De repente, não mais que de repente" aturdi-me com uma figura estranha que passava na calçada que tinha-me algo de familiar. Levava um porte elegante e trajava um palitó branco de algodão. Na cabeça uma boina lhe dava um ar boemio e despreocupado. Sentou-se no bar em que parecia ser assíduo, levando em conta o cumprimento afetuoso do dono, o bar de onde vinha as músicas que ouvia. Pediu uma cerveja (beber a essa hora em plena terça-feira? Nem se aproxima do meio dia, mas que idéia). Mas havia algo de mistério e de estranhamente conhecido que me atraiu a observar aquele homem.
        Na segunda cerveja apanhou ele um grardanado e pô-se a escrever algo que pelos trejeitos que fazia parecia lírico. Ao terminar pôs-se a declamar os versos:

Como um passarinho
fizestes ninho
no alto Que dantes era flor
comigo aqui no solo era em cor

Me observas com olhos curiosos
que antes eram ternos e calorosos
Mas com teus cabelos em fogo
no vento tenho meu consolo

Com tua dúvida há meu padecer
O tempo lhe fez esquecer
As feições que mudaram pelo mesmo autor

De ti a distância, tens um novo amor
De mim a conformação
Junto a cerveja que tomo agora


Dalila Fonteles Mauler 03/02/2011

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Quem tava no encontro do Eufonia terça deve ter escutado eu dizer que nunca conseguia terminar um conto. Pois não é que desse vez eu consegui! Fazia tempo que não gostava de algo que faço mas até que achei legal esse texto! Quero saber a opinião de vocês.
Obrigada a todos pela acolhida maravilhosa de sempre!
De volta aos blogs de quinta!
Beijo bem grande!

7 comentários:

Gabriel Lopes Garcia disse...

eu gostei da criatividade do conto, as descrições do ambiente e do estado de espírito do eu-lírico observando a cena
mais ainda, achei uma ótima ideia encerrar com a poesia do homem; realmente original

Paulo Henrique Passos disse...

é, estou voltando também ao blogs de quinta, pelo menos eu epero manter as postagens, vamo ver né.

ficou bem legal mesmo a descrição do local boêmio. não sei se o narrador é feminino, mas considerando que é, me pareceu que a poesia aí do homem foi dirigida à curiosa ouvinte.

muito boa sorte nessa tua nova fase. e que não falte inspiração.

Aninha disse...

Adorei a mistura de conto e poesia. Você escreve muito bem, Dalila!
*PS: a parte da boina me lembrou alguem que eu conheço :~~
Beiiiijo.

A moça da flor disse...

hehe eu sei einnn ;p
mas boina sempre me remete a algo como que uma uma ar interessante ao mesmo tempo que displicente... Bem a cara de meu amigo hehe
beijim querida, oobrigada pelo apoio e os elogios!

Anônimo disse...

Gostei da mistura conto-poesia :D
E eu gosto de contos inacabados. É uma forma criativa de estimular a criatividade do leitor :)

Thiago César disse...

eu tb gostei, parece ter sido uma experiencia real... acredito q em parte é!

lucas lima disse...

colequei um video com musica que estva aquele musica do coração, e um ótimo texto pra relaxar.