sexta-feira, 6 de maio de 2011

The Sweet Little Rabbit

 

Era um dia negro então. Sentou-se com as mãos sobre as pernas e pensou sem grandes afetações, que nada fazia sentido. Não chorou, não praguejou, nem culpou aqueles que a rodeavam. Simplesmente lhe parecia claro. Sentara-se agora de pernas cruzadas e abrira a caixa velha de fotografias. Em uma delas havia um coelhinho branco com uma mancha cinza que ia do olho às longas orelhas. Era uma daquelas típicas  criaturinhas fofas que se tem vontade de acariciar mesmo não sendo tão delicado assim. Mas não lembrava com claridade o que significava aquela foto. Olhou com fixidez para o retrato detendo-se em cada detalhe inclusive no amarelado da foto, devia ter ao menos dez anos. Lembrou-se de onde estava naquela época. O que fazia e que sentimentos tinha. Com relação ao futuro, ao trabalho, ao namorado. Ainda namorava Alberto naquela época. Por um momento era como se estivesse lá. No frio daquela cidade.  No coração quente de Alberto. Na realização do trabalho que exercia. Era voluntário, o pagamento só uma bonificação, mas nunca havia se sentido tão útil. 
Em uma tarde sentira saudade de algo que fazia com muita frequência no quintal solitário de sua infância. Cortava um galho do pé de mamão, enxia uma vasilha com água e sabão em pó e passava a tarde toda a soprar bolinhas pelo talo oco de mamoeiro. Pensou como seria fazer isso acompanhada. “Mas que brincadeira boba’ - censurou-se. Mesmo enrubescida e sem jeito falou de seu desejo a Alberto. Ao qual respondeu que não era nada demais. Seguiram então para o parque. Onde o passeio só era possível, porque mesmo no leve frio que fazia (nunca era realmente calor naquele lugar) era praticável tal coisa. Galhinhos de mamão naquela terra eram difíceis, então passaram numa lojinha e compraram os “fazedores de bolhinhas” de plástico mesmo. Sentaram-se na grama bem verde. De fato aquela terra também tinha sua beleza. Era frio sempre e muito frio na maior parte do ano, mas os bosques e a paisagem natural (que ainda restavam) eram realmente muito inspiradores. E nem pareceu tão fora de contexto assim as tais bolhas de sabão. Levara a câmera. Queria registrar aqueles raros diazinhos de sol. Aprendera umas técnicas de fotografia na época da faculdade (época não muito distante dali) com uma amiga. Conseguiu, então, fazer alguns enquadramentos interessantes. Surge então um coelhinho de dentro do bosque. Enquanto que alguns esquilos faziam menção de  aproximar-se mais logo fugiam arredios, aquele coelhinho se chegara como se soubesse que “eram amigos”. E como naquelas cenas de filme em que um bichinho bonitinho se aproxima da mocinha como que pedindo carinho, ela cumpriu seu papel. Enquanto isso o doce coelhinho se mantinha imóvel. Quando cessou o afago ele voltou para os seus.
Tornando a si daquele semi transe. Lembrou-se o porque da foto. Partiu. Pediu uma licença do emprego. Neste ganhava consideravelmente mais, mas nem de longe sentia-se fazendo algo realmente útil. Sentou-se de novo naquele bosque. O tempo não era tão agradável quanto o daquele dia, mas ainda assim não era ruim. Como que conectando-se ao sentimento que a levara ali da outra vez, eis que o símbolo daquele dia memorável aparece. Dessa vez com um filhote (não era que o coelhinho era fêmea). Aquilo era mais do que ansiava encontrar. Com a mesma docilidade que o fora antes, o bichinho se aproximou, olhou-a como que procurando o sentimento que outrora a acompanhava. Viu-a sozinha, viu-a com saudade de si mesma, viu-a tentando achar o que antes parecia tão certo e incontestável. Mas olhando de novo o que vira antes, mesmo que não com o mesmos olhos. Sentiu que as coisas ainda poderiam  fazer sentido.

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Fotos por Ana Carolina Cardoso. 
Visitem o blog dela muita coisa boa por lá http://thehypecollective.wordpress.com/
Quase foi na quinta...

8 comentários:

CA Ribeiro Neto disse...

Dalila, como se passou um mês sem postar, os blogs abaixo estão desligados do Blog's de Quinta.


http://www.nabuscadeumaaprendizagem.blogspot.com/
http://historiasdesconexas.blogspot.com/


Lembrando que os donos desses blogs podem pedir para regressar aos Blogs de Quinta sempre que quiserem, desde que haja vaga entre os 15 membros.

Lukie Lana disse...

Alguma referência? Alberto, talvez? =)

Thiago César disse...

achei interessante como o coelho representou toda aquela inocência e felicidade perdida da infância da personagem. belo conto!

CA Ribeiro Neto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CA Ribeiro Neto disse...

Flor, temos a volta de uma parceira do blogs de quinta:

http://historiasdesconexas.blogspot.com/ - Esyath Barret
- http://melhornaopensarnisso.blogspot.com/ - Joaquim R.

Adicionar à lista do Blogs de Quinta. Agora completamos 15 membros, ou seja, recomeça a regra de que se passar um mês sem postar, será automaticamente delisgado dos quinteiros!

Ana Carolina Cardoso disse...

Tem uma vibe meio ALICE aí ou sou eu que associo coelhos e meninas à Lewis Carrol? haha! MUITO LINDO, DALILA! adorei e vou anunciar no blog esse nosso projetinho ;* beijos.

Gabriel Lopes Garcia disse...

me lembrou os tempos de criança e me deu vontade de fazer bolinhas de sabão novamente...

CA Ribeiro Neto disse...

Texto bem legalzinho. Tou num momento de querer textos fortes e talvez por isso não me cativei tanto, mas não nego que o texto está bem apreciável!


Só para constar, o Cabeça saiu do Blogs de Quinta, pode tirar o nome dele da lista!